sábado, 26 de julho de 2008

Filme: "XXY" de Lucía Puenzo


Argentina/França/Espanha - 2007. Dir.: Lucía Puenzo. Distr.: Imovision - AA+
25/07/2008

AAA Excepcional / AA+ Alta qualidade / BBB Acima da média / BB+ Moderado / CCC Baixa qualidade / C Alto risco




Num vilarejo litorâneo do Uruguai, uma hermafrodita de 15 anos enfrenta o dilema de uma eminente metamorfose sexual. Relutante em prosseguir com a terapia hormonal recomendada, a protagonista (Inés Efron) viverá um conturbado romance com um rapaz argentino, filho, justamente, do cirurgião plástico que discute com sua família as possibilidades de uma operação. Passível de controvérsias, o tema (raro, senão inédito no cinema) ganha um tratamento tão sutil quanto politicamente correto - o que não chega a comprometer o realismo da trama. Dirigido pela estreante Lucía Puenzo, o filme recebeu 17 prêmios internacionais, incluindo o Goya de filme estrangeiro e 2 prêmios especiais na edição 2007 do Festival de Cannes.


Resumo do filme XXY de Lucia puenzo - Por Karolline Pacheco Santos

O filme XXY da cineasta argentina Lúcia Puenzo traz como enredo a questão da sexualidade através da história de Alex, um(a) jovem intersexual (vulgarmente chamados de hermafroditas, ou seja, que apresentam os dois órgãos sexuais) e que se vê constantemente em conflito com a idéia de optar por um dos sexos e gêneros; caso ainda mais agravado pela presença de um cirurgião e sua família, convidados pela mãe d@ jovem com a idéia de uma possível cirurgia de redesignação sexual, e sua relação com o filho do casal que aflora ainda mais seus desejos e dúvidas quanto à idéia de escolher um ‘lado’. Alex entra em um embate consigo e com as relações estabelecidas que são influenciadas pela sua situação, o dilema da sexualidade como identidade e o próprio preconceito por parte dos outros.

Mas o dilema de Alex traz o confronto daquilo que é freqüentemente aceito e que foi naturalizado, mas vem sendo problematizado, discutido fora da idéia de norma e da concepção de natural que foi atribuída às questões de sexo e gênero. Há uma tênue divisão entre sexo e gênero que precisa ser resgatada e repensada (e foi através de movimentos como o feminismo e de autores de linha pós-estruturalista), mas em si funcionam da mesma forma como “invenções sociais, que sublinha um dado biológico cuja importância, culturalmente variável, torna-se um destino natural e indispensável para a definição dos corpos. Isto significa que a materialidade do corpo existe, porém a diferença entre os sexos é uma atribuição de sentido dada aos corpos” (SWAIN, 2000, p. 50).

Seguindo autores como Butler, inclusive o sexo entra como discursivo além da noção de gênero e que define atribuições e papéis em uma estrutura binária que limita a própria manifestação plural do sujeito e funciona como um dos vários pontos de relações de poder e controle. Práticas interiorizadas transformadas em regimes de verdade que inserem nos corpos discursos definidores que relacionam sexo e gênero como identidades fixas; concepções de masculinidade, feminilidade e heterossexualidade são tidas como verdades e tudo que foge a essa esfera normativa de uma realidade construída é combatido essencialmente através de preconceitos “A história do Ocidente naturaliza as relações e as funções atribuídas a mulheres e a homens, recriando-as e desenvolvendo uma política de silenciamento, que apaga a diferença, o plural e o múltiplo do humano. Neste sentido, a noção de diferença é historicamente construída” (SWAIN, 2000, p. 49).

Assim Alex encontra-se no limbo, em ter que escolher uma identidade sexual, passar por uma cirurgia de redesignação sexual(castração ou mutilação) e se adequar as normas que regem o masculino/feminino que tolhe essa pluralidade do ser humano; e como proposta de discussão problematizar a forma que essas relações heterossexuais e sua premissa essencial de macho/fêmea opera a complexidade que envolve a sexualidade e suas ilimitadas formas marginalizadas por esse padrão tido como normal e motor de diversos preconceitos.

Karolline Pacheco Santos é estudante de História do 2o Semestre.


Fonte: Jornal "Valor Econômico" de 25.07.2008

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