sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A arte de investir em arte

Mercado de US$ 65 bilhões parece atraente, mas é preciso ficar atento com a pouca transparência e a não regulamentação.


Por Georgina Adam, do Financial Times
15/01/2010


AP

O quadro mais caro de Rembrandt foi vendido por US$ 29,5 milhões em leilão realizado na Christie's de Londres, no mês passado

O boom das artes ocorrido entre 2004 e 2007 proporcionou um crescimento tão incrível, especialmente da arte contemporânea, que não surpreende o fato de a arte estar sendo cada vez mais "commoditizada", agrupada em fundos e apresentada como uma classe de ativos alternativa. Mas enquanto a maioria das pessoas consegue reconhecer rapidamente um Picasso ou um Andy Warhol, elas têm um conhecimento muito menor das questões complexas inerentes ao comércio de algo que quase sempre é heterogêneo, num mercado pouco transparente e não regulamentado.

A editora do recém-lançado "Fine Art and High Finance", Clare Mcandrew, tem PhD em economia pelo Trinity College Dublin e comanda uma consultoria voltada para a economia das artes. Seu livro "The Art Economy", publicado em 2007, foi um guia do investidor para o mercado das artes. Este livro atualiza e amplia os tópicos abordados naquele volume. Após uma breve passagem pela história do mercado de arte moderna, a autora afirma que uma das características econômicas mais importantes do mercado é que ele é essencialmente conduzido pela oferta. "O aumento da demanda não consegue necessariamente aumentar a oferta, elevendo os preços em vez disso."

O mercado de arte, no entanto, é também difícil de ser quantificado e até mesmo seu tamanho, conforme observam vários colaboradores do livro, é apenas uma estimativa: US$ 65 bilhões em 2008, segundo Clare McAndrew. Além disso, como avaliar o preço de uma pintura quando quatro retratos que Picasso fez de Dora Maas, todos da década de 1940 e tamanhos comparáveis, podem ser vendidos por entre US$ 4,5 milhões e US$ 85 milhões num período de três anos?

Há muitas tentativas de estabelecer índices para as artes, nenhum deles completamente bem-sucedido. Conforme observa Roman Kräussl, da VU University de Amsterdã: "Todos os índices de preços para o mercado de arte são tendenciosos por causa dos problemas inerentes às informações disponíveis". Os únicos preços disponíveis são aqueles formados nos leilões, o que elimina cerca de 50% das transações, aquelas feitas pelos negociantes de arte. Depois de condensar publicações que vão de 1974 a 2008, Roman Kräussl conclui que "os estudos sobre os retornos proporcionados pelos investimentos em arte produziram resultados muito ambíguos".

Diante disso, pode parecer surpreendente que tantos fundos de arte tenham sido iniciados. Os lucros enormes que podiam ser conseguidos até o ano passado eram um estímulo óbvio - particularmente em fundos da Índia, que, segundo o especialista em administração de fortunas Randall Willett, representaram a maioria dos mais de 50 fundos que estiverem "ativos" no ano passado. Willett descreve os vários modelos de fundos, enquanto Clare McAndrew contribui com um estudo de caso do único fundo de hedge de arte, baseado no Reino Unido.

Há algumas inconsistências na cobertura: por exemplo, a taxação no Reino Unido e nos Estados Unidos é detalhada, mas o capítulo sobre o comércio ilegal de arte cobre apenas os Estados Unidos, deixando de fora o segundo maior centro de comércio de arte do mundo. Os litígios relacionados à arte estão crescendo e as legislações do Reino Unido e dos Estados Unidos diferem em uma série de aspectos que afetam o mercado de arte.

O que o livro não consegue fazer (e nem tenta) é prever como o mercado de arte vai evoluir, uma vez que ele ainda está em meio a um processo de reajuste depois da crise financeira recente. Essa crise teve um grande impacto, particularmente na área que registrou os maiores ganhos: a arte contemporânea. Alguns artistas estão vendo seu valor cair até 50%.

A decisão de "investir" em arte é complexa, mas este livro proporciona muitas informações para aqueles que pensam em aplicar seu dinheiro em Monet.

"Fine Art and High Finance: Expert Advice on the Economics of Ownership". Editado por Clare McAndrew.

Bloomberg Press, US$ 39,95, 336 páginas


Fonte: Jornal "Valor Econômico" de 15.01.2010

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