sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

"Tentação de Santo Antônio" de Hieronymus Bosch - 1505/1506



Esse artista extraordinário se destaca entre os magníficos pintores da tradição flamenga por seu estilo único, inteiramente livre e por um simbolismo vivo, curiosíssimo, inconfundível e sem paralelo até nossos dias. Maravilhando e aterrorizando, Bosch expressou um forte pessimismo e as ansiedades de seu tempo, marcado por muitas revoltas políticas e distúrbios sociais.

Sua vida, tão enigmática quanto algumas de suas obras, foi marcada por um fato raro até o século 20: a fama em vida. Sua obra, quase toda marcada por seres fantásticos e eivadas de cenas demoníacas, é pequena mas continua recebendo a mesma atenção desde que foi criada. Hieronimus Bosch não sai de moda.

Para compreendermos melhor a importância e a personalidade de Bosch, devemos nos lembrar que ele viveu entre 1450 e 1516; Leonardo da Vinci entre 1452 e 1519 e Michelangelo entre 1475 e 1564. O que isso quer dizer? Que os três gênios estavam em atividade na mesma época. O trabalho de Bosch não tem a mais mínima relação com a obra dos dois italianos e não há nenhuma evidência de que o holandês soubesse da existência dos outros dois. O período em que os três viveram foi farto em acontecimentos que levaram a uma mudança de atitude em relação à Igreja. O protestantismo começou a surgir graças a Martin Luther lá pelo fim da vida de Bosch, mas os motivos e fatos que levariam a isso estavam em gestação há algum tempo.

As tentações sobrenaturais que Santo Antonio sofreu durante seu retiro no deserto egípcio foram relatadas pela primeira vez por Atanásio de Alexandria e desde então são tema recorrente na literatura e nas artes plásticas. Hieronimus Bosch fez desse tema um tríptico que é uma de suas obras mais célebres. Nela, através de símbolos, o artista nos relata os tormentos espirituais e mentais que o santo enfrentou. Em nenhuma de suas outras obras Bosch nos mostrou as vicissitudes da vida espiritual mais vividamente do que nesse tríptico. Nos painéis central e esquerdo, o pintor nos apresenta o horror do pecado e dos desatinos, um retrato pavoroso do Inferno e imagens do sofrimento do Cristo; no painel direito, Bosch retrata o santo firme em sua resistência às tentações do Mundo, da Carne e do Diabo. Numa era quando se acreditava piamente no Céu e no Inferno, e na iminente aparição do Anticristo, a postura serena de santo Antonio, o Eremita, nos olhando de dentro de sua capela assombrada, com certeza oferecia esperança e confiança na fé.

A Tentação de Santo Antonio, óleo sobre painéis de madeira. O central mede 131,5 x 119cm e os laterais 131.5 x 53 cm.

Acervo Museu de Arte Antiga de Lisboa, Portugal


Fontes:

www.wga.hu/frames-e.html?/html/b/bosch/index.html

www.mnarteantiga-ipmuseus.pt

Biografia



O seu nome verdadeiro era Jheronimus (ou Jeroen) van Aken. Ele assinou algumas das suas peças como Bosch (AFI /bɔs/), derivado da sua terra natal, 's-Hertogenbosch. Em Espanha é também conhecido como El Bosco.

Sabe-se muito pouco sobre a sua vida. A não existência de documentos comprovativos de o pintor ter trabalhado fora de Hertogenbosh levam a que se pense que Bosch tenha vivido sempre na sua cidade natal. Aí se terá iniciado nas lides da pintura na oficina do pai (ou de um tio), que também era pintor.

Foi especulado, ainda que sem provas concretas, que o pintor terá pertencido a uma (das muitas) seitas que na época se dedicavam às ciências ocultas. Aí teria adquirido inúmeros conhecimentos sobre os sonhos e a alquimia, tendo-se dedicado profundamente a esta última. Por essa razão, Bosch teria sido perseguido pela Inquisição. Sua obra também sofreu a influência dos rumores do Apocalipse, que surgiram perto do ano de 1500.

Existem registos de que em 1504 Filipe o Belo da Borgonha encomendou a Bosch um altar que deveria representar o Juízo final, o Céu e o Inferno. A obra, atualmente perdida (sem unanimidade julga-se que um fragmento da obra corresponde a um painel em Munique), valeu ao pintor o reconhecimento e várias encomendas posteriores. Os primeiros críticos de Bosch conhecidos foram os espanhóis Filipe de Guevara e Pedro de Singuenza. Por outro lado, a grande abundância de pinturas de Bosch na Espanha é explicada pelo fato de Filipe II de Espanha ter colecionado avidamente as obras do pintor.

Bosch é considerado o primeiro artista fantástico.

Obra

Atualmente apenas se conservam cerca de 40 originais seus, dispersos na sua maioria por museus da Europa e Estados Unidos da América. Dentre estes, a coleção do Museu do Prado de Madri é considerada a melhor para estudar a sua obra, visto abrigar a maioria daquelas que são consideradas pelos críticos como as melhores obras do pintor.

As obras de Bosch demonstram que foi um observador minucioso bem como um refinado desenhador e colorista. O pintor utilizou estes dotes para criar uma série de composições fantásticas e diabólicas onde são apresentados, com um tom satírico e moralizante, os vícios, os pecados e os temores de ordem religiosa que afligiam o homem medieval. Exemplos destas obras são:

* O Carro de Feno - (Museu do Prado, Madrid)
* O Jardim das Delícias - (Museu do Prado, Madrid)
* O Juízo Final - (Akademie der Bildenden Künste, Viena)
* As Tentações de Santo Antão - (Museu de Arte de São Paulo, São Paulo)
* As Tentações de Santo Antão - (Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa)
* Os Sete Pecados Mortais - (Museu do Prado, Madrid)
* Navio dos Loucos ou A Nau dos Insensatos - (Museu do Louvre, Paris)
* Morte e o Avarento - (Galeria Nacional de Arte em Washington, DC.


A par destas obras, que imediatamente se associam ao pintor, há que referir que mais de metade das obras de Bosch abordam temas mais tradicionais como vidas de santos e cenas do nascimento, paixão e morte de Cristo.

O original tríptico As Tentações de Santo Antão esta incorporado no Museu Nacional de Arte Antiga a partir do antigo Palácio Real das Necessidades. Desconhecem-se as circunstâncias da chegada da obra a Portugal, não sendo certo que tenha feito parte da coleção do humanista Damião de Góis, como algumas vezes é referido.


Fonte: Wikipedia

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