segunda-feira, 3 de novembro de 2008

"Everything That Happens Will Happen Today" de David Byrne & Brian Eno

31/10/2008

AAA Excepcional / AA+ Alta qualidade / BBB Acima da média / BB+ Moderado / CCC Baixa qualidade / C Alto risco

Distribuição: Todo Mundo / AA+


Muito antes do Vampire Weekend, muitos anos antes do Terceiro Mundo ser incorporado na música ocidental, Brian Eno e David Byrne vislumbraram o moderno worldbeat num dos discos mais influentes da década de 1980. Orientado pelo funk-rock futurista já exercitado no Talking Heads, "My Life in the Bush of Ghosts" (1981) vinha carregado de samples exóticos: há excertos de cerimônias de exorcismo "reais", fragmentos do pop egípcio, da música folclórica libanesa, vozes garimpadas de programas de TV - pregadores, apresentadores de talk shows, etc. A colagem multicultural não tinha paralelos na época. Passados 27 anos, ainda soa desbravadora.



Divulgação
Eno (à esq.) com Byrne: o segundo descreve o trabalho como "gospel eletrônico", definição que é mais precisa no tocante à temática


"Everything That Happens Will Happen Today" retoma essa clássica parceria, mas não espere pelo mesmo teor experimental. Trata-se de um álbum de canções propriamente ditas, com ênfase nas harmonias vocais de Byrne - algo absolutamente oposto à colaboração prévia da dupla. Está bem mais para "More Songs about Buildings and Food", "Fear of Music" e "Remain in Light", a trilogia que Brian Eno produziu para os Talking Heads, entre 1979 e 1980.

Projeto de longa gestação, "Everything That Happens..." começou a tomar forma durante um encontro informal em 2006. Eno falou sobre um novo repertório que vinha acumulando havia oito anos, temporariamente engavetado por sua indisposição como letrista. Byrne, então, dispôs-se a finalizar o material - e levou para casa um CD-R com as demos. Desde então, passaram a trabalhar via e-mail, nas brechas da agenda pessoal. Eno, por exemplo, esteve ocupado trabalhando no álbum do Coldplay "Viva la Vida", que por pouco não incluiu a versão de Chris Martin para a base instrumental de "One Fine Day" (presente em "Everything That Happens...").

Byrne descreve o trabalho forjando o termo "gospel eletrônico". A definição será mais precisa no tocante à temática, entretanto, cheia de referências bíblicas. O que se espera de uma incursão pelo gospel negro aparece apenas ocasionalmente - nas múltiplas camadas vocais dos refrões de "Life Is Long" e "The River" ou na atmosfera redentora da faixa de encerramento, "The Lighthouse". O restante será uma combinação natural dos trabalhos mais recentes de Byrne e Eno, com a óbvia exceção da esquizofrênica "Poor Boy". Esta, para os fãs mais nostálgicos, será como o outtake perdido de "Bush of Ghosts": uma estranha combinação de beats africanos, guitarras dissonantes e vocais saturados de efeitos. (LBH)

Fonte: Jornal
"Valor Econômico" de 31.10.2008

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