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terça-feira, 9 de setembro de 2008

"Alphaville" de Jean-Luc Godard


Certa vez, o renomado cineasta Werner Herzog disse: “Filmes como os de Godard são moeda intelectual falsificada quando comparados a um bom kung fu de Hong Kong”. Em parte tal afirmação é verídica, a carreira de Godard entrou em total declínio a partir da década de 70. No entanto, Godard, nos anos 60, realizou obras-primas sucessivas a obras-primas, tornando-se talvez o maior expoente dessa década.

Alphaville é um filme de 1965, isto é, situado no meio do auge da carreira do diretor. Uma das principais qualidades da obra foi seu pioneirismo em misturar "Sci-Fi" mais "Noir", tornando-o uma ficção surreal e altamente poética. Nele, um jornalista interpretado por Akim Tamiroff deve realizar uma matéria. No decorrer da película, esse mostra sua verdadeira cara e, de jornalista, passa para justiceiro, agora com a missão de encontrar o colega de profissão Henry Dickson e investigar o desaparecimento de outros cinco agentes. Tudo se passa em uma cidade pertencente a outra galáxia, com o nome de Alphaville. Nela toda a sociedade é comandada por uma tirano supercomputador denominado Alpha 60. Tal máquina comanda uma “sociedade técnica, como a dos cupins e formigas”, governando de forma cruel e arbitrária, deixando seus habitantes como legítimos zumbis, completamente alienados e sem sentimentos.

Godard se cercou de elementos literários encontrados em "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley e principalmente do livro "1984", de George Orwell. Um futuro autoritário com restrição vocabular e um super-olho onipresente. A bíblia de Alphaville é um dicionário e esse passa por constantes alterações, com objetivo de oprimir a população e mantê-la ignorante. Para o supercomputador, pessoas normais não têm lugar nessa cidade e não merecem viver, para isso, há duas alternativas: o suicídio ou a recuperação em um “hospital”.

O protagonista pertence aos chamados “países exteriores”, aparentemente sociedades opostas a Alphaville. Ele deve convencer o professor Von Braun a retornar à sua terra natal, e caso ele rejeite deverá ser assassinado. Para essa missão, Natasha (Anna Karina), a filha do pesquisador, contribuirá com o justiceiro. Outra grande qualidade que vale salientar são os belíssimos diálogos e a sociedade ignorante montada pelo cineasta. Filme imprevisível e denso, com caráter sublime e futurista.

O Alpha 60 lembra muito HAL 9000 de "2001: Uma Odisséia no Espaço", ambos com uma inteligência fora do comum e uma ambição sem fim. Akim Tamiroff interpreta um dos personagens mais frios do cinema, juntamente a uma climatização noir lotada de características noturnas e sombrias. Toda essa ambientação extremamente ousada de Godard rendeu o Urso de Ouro de Melhor Filme do Festival de Berlim. Anna Karina em um de seus melhores personagens com seu marido, o próprio diretor do filme, à época. Trilha sonora oscilante e com alto teor romântico, um dos grandes clássicos da década de 60 e um dos melhores Godard já feitos.


Fonte: Site www.cineplayers.com