“Não me bebas sem razão.
Não me distribuas sem honra.”
Mestre Joaquim José de Andrade Neto
A UDV vem sendo recriada na Terra por determinação superior e nela permanece ora por períodos curtos, ora por períodos longos, sempre se manifestando na forma mais pura e elevada. Porém, quando as pessoas não demonstram grau para trabalhar com essa força e tentam usá-la de acordo com seus interesses pessoais, ela se recolhe nas brumas do tempo, desaparecendo temporariamente.
Sua origem encontra-se nos primórdios da civilização humana, quando Caiano,
De posse desse segredo, Caiano vem reencarnando na Terra em diversos destacamentos, procurando, a cada vez, restaurar a União do Vegetal, trazendo os homens das trevas para a luz, da ignorância para o Conhecimento, da ilusão para a realidade. Neste século, retornou no corpo e no nome de José Gabriel da Costa para uma vez mais recriá-la. Da cidade de Coração de Maria, Bahia, onde nasceu, ele dirigiu-se já em idade madura para Porto Velho, Rondônia, com o objetivo de trabalhar como seringueiro na Floresta Amazônica, e lá acabou reencontrando o chá Oaska, também conhecido por Vegetal. Com a comunhão, começou a recordar-se de suas vidas passadas, e a partir de então ficou três anos examinando essas revelações. A partir de 1961, já consciente de sua missão como MESTRE Gabriel, começou a distribuir o chá e a doutrinar pessoas.
Nessa época, já tendo recebido as chamadas e os ensinamentos sobre como contactar a Força Superior através da Oaska, ele constituiu em Porto Velho uma sociedade que recebeu o nome de Associação Beneficente União do Vegetal. Alguns anos depois, devido à incompreensão por parte de autoridades policiais e por conveniência jurídica, acabou mudando esse nome para Centro Espírita Beneficente União do Vegetal.
De origem humilde, MESTRE Gabriel enfrentou durante a sua vida muitas dificuldades, e lutou heroicamente pela sobrevivência e sustento da mulher e de seus oito filhos. Todos os que o conheceram puderam sentir a beleza e a luminosidade de seu espírito, e quem não teve esse privilégio pode vislumbrar sua força espiritual através das centenas de chamadas que ele trouxe para a União do Vegetal e através do conforto espiritual proporcionado por seus ensinamentos, os quais revelam, sobretudo, o verdadeiro sentido da existência.
Apesar dos obstáculos, o MESTRE dedicou-se integralmente à obra espiritual que lhe estava destinada, e deixou, antes de desencarnar, dezenas de associados provenientes de diversos Estados do país e doze pessoas incumbidas de distribuir o Vegetal, as quais apenas simbolicamente iriam dar continuidade ao seu trabalho até que chegasse quem estava destinado a ser o seu legítimo representante.
Com o desencarnamento de MESTRE Gabriel, a UDV continuou funcionando sob a sua supervisão espiritual. Porém, o fato de a Ordem não contar naquele momento com a presença de um Mestre encarnado deu início a acontecimentos que indicavam que alguma coisa estava prestes a ocorrer, como se a União do Vegetal aguardasse o preenchimento de uma lacuna ocasionada pela ausência de quem sabe o que faz, por que e para que o faz.
Com efeito, esses indícios de transformação acabaram dando origem a um novo ciclo, que teve início em 1981 (dez anos após o desencarnamento de MESTRE Gabriel) com a constituição, por Mestre Joaquim José de Andrade Neto, do Centro Espiritual Beneficente União do Vegetal, em Campinas, São Paulo.
A CONSTITUIÇÃO DO CENTRO ESPIRITUAL
BENEFICENTE UNIÃO DO VEGETAL
Para compreender um fato é preciso, muitas vezes, identificar suas origens e o contexto em que ele ocorreu.
No caso da constituição do Centro Espiritual Beneficente União do Vegetal por Mestre Joaquim, é fundamental conhecer alguns acontecimentos que tiveram lugar a partir de sua chegada em 1975 à cidade de Porto Velho, para onde ele se dirigiu em busca da União do Vegetal. É com o objetivo de trazer esclarecimento sobre esse assunto que relataremos a história desde o início.
A chegada a Porto Velho
Em 1975, quatro anos após o desencarnamento de MESTRE Gabriel, chegou a Porto Velho, procedente de Campinas, Joaquim José de Andrade Neto, na época com vinte e cinco anos, à procura da Oaska, da qual ouvira falar por intermédio de um conhecido. Foi recebido pelo então representante geral da União do Vegetal, mestre João Ferreira de Sousa, conhecido como mestre Joanico, o qual marcou uma sessão para o dia 17 de abril especialmente para atendê-lo.
Ao beber o Vegetal como sócio adventício na então Sede Geral, templo José Gabriel da Costa, na época em construção, numa sessão da qual participaram mais de trinta pessoas, Joaquim José de Andrade Neto, convidado a falar, provocou emoção nos presentes quando discorreu sobre a missão da União do Vegetal na Terra e sua ligação pessoal com ela, manifestando ainda, de forma marcante e significativa, seu reconhecimento e determinação em servir à Ordem. Concluiu a exposição com as seguintes palavras: “O poder do mal é grande, mas a coroa pertence ao Bem”.
Terminada a sessão, que havia sido dirigida por mestre Joanico, ele disse:
- Mestre, eu vi tudo.
Ao que mestre Joanico respondeu:
- O senhor não viu nada. Isso é só o começo.
Voltando o olhar para uma faixa, exposta num busto do MESTRE Gabriel, na qual estavam inscritas as letras UDV é OBDC, indagou:
- O que significam essas letras?
Ouviu a seguinte resposta:
- Um dia o senhor vai saber.
- Tu o dizes! - sentenciou, e despediu-se com um forte aperto de mão e um olhar que expressava grande gratidão pelo copo de fogo líqüido que ainda iluminava seu espírito.
O encontro entre o hoje Mestre Joaquim e mestre Joanico foi tão forte que, no dia que se seguiu ao dessa primeira sessão, mestre Joanico lhe deu, atendendo a um pedido seu, uma quantia de Vegetal equivalente a um copo para que a levasse consigo, atitude inédita em alguém cujo comportamento primava pelo rigor no trato com as coisas relacionadas com a União do Vegetal. Agiu desta maneira em obediência à força da burracheira, motivado por um reconhecimento instintivo de que se encontrava diante de alguém destinado a cumprir uma missão significativa na União do Vegetal.
Tal atitude, porém, não foi compreendida pelos demais discípulos, e acabou provocando ciúme em algumas pessoas que tinham dificuldade para aceitar os acontecimentos. E este foi apenas o início de uma série de incompreensões que culminaram posteriormente na constituição do Centro Espiritual Beneficente União do Vegetal. No entanto, essa entrega do Vegetal a Mestre Joaquim teve grande importância devido à influência que a presença do poderoso líqüido teve junto a ele nos acontecimentos que se seguiram.
Em busca do mandado de segurança
Naquela mesma ocasião, Mestre Joaquim manifestou a mestre Joanico a sua vontade de participar de uma sessão em Manaus antes de retornar a Campinas, e este prontificou-se então a escrever duas cartas apresentando-o ao representante e ao presidente do Núcleo dessa cidade.
No dia seguinte, de posse das cartas, Mestre Joaquim viajou para Manaus no barco Intendente João Elias, no qual, além da tripulação, apenas ele e um passageiro viajavam.
Durante os dois primeiros dias da viagem, Mestre Joaquim e o outro passageiro não conversaram. Este, que viajava em uma rede ao seu lado, ocupava-se durante todo o tempo com a leitura da Bíblia, enquanto o Mestre lia um livro intitulado Uma aventura na mansão dos Adeptos Rosa-Cruzes, presente de um senhor que ele conhecera num hotel, de nome David, delegado do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento de Porto Velho.
No segundo dia, Mestre Joaquim leu em voz alta a última frase do livro, que era de São Paulo Apóstolo (Corínthios), fechando-o em seguida. E qual não foi a surpresa de seu companheiro de viagem ao ouvir exatamente a mesma frase que estava lendo na Bíblia! Depois desse acontecimento, iniciou-se uma conversação através da qual Mestre Joaquim soube que esse passageiro se chamava Inácio Mendes, que havia sido dono de um jornal em Porto Velho e que não só conhecera MESTRE Gabriel como também participara de algumas sessões (motivado principalmente por problemas de saúde) dirigidas por ele.
O Sr. Inácio contou-lhe que, na ocasião, o Vegetal lhe fizera bem, mas que, como era pessoa de posses, membro do Rotary e da Maçonaria, havia sido desestimulado por conhecidos a freqüentar a União do Vegetal pela maneira humilde como ela se manifestou naquela fase de sua história. E, ao saber que o Mestre dirigia-se a Manaus para participar de uma sessão, disse-lhe que também ele viajava com destino a essa cidade, na qual pretendia fazer um tratamento de saúde. Manifestou então sua vontade de beber o Vegetal novamente, e pediu-lhe que intercedesse junto ao representante do Núcleo no sentido de que a sua participação fosse permitida.
Mestre Joaquim concordou e, ao chegar a Manaus, despediu-se do Sr. Inácio Mendes, ficando com o endereço de sua filha para posteriormente contactá-lo. Procurou pelo presidente e pelo representante do Núcleo da União do Vegetal dessa cidade, e este, durante o encontro, decidiu que no dia seguinte, terça-feira, dia 22 de abril, seria realizada uma sessão extra para atendê-lo. A autorização para que também o Sr. Inácio comungasse o Vegetal foi concedida e o Mestre compareceu ao Templo levando-o consigo.
Durante esta sessão, surgiu o assunto das dificuldades que a União do Vegetal vinha tendo em função da incompreensão, por parte de autoridades policiais, quanto à distribuição do chá. O Sr. Inácio pediu a palavra e disse que discorrer acerca de tais problemas não fazia mais sentido, uma vez que existia um mandado de segurança, assinado por nove desembargadores, autorizando a utilização do chá Oaska em rituais religiosos. Acrescentou, ainda, que esse mandado havia sido impetrado pelo então advogado da Ordem, Sr. Jerônimo Santana, o qual, inclusive, fora indicado por ele próprio. Contou também haver sido por sugestão desse mesmo advogado, e por conveniência jurídica, que a denominação Centro Espírita fora adotada. E explicou que esse documento se encontrava na Secretaria de Justiça, em Brasília, e que quem poderia fornecer mais informações a esse respeito era o próprio Jerônimo Santana, que naquela época lá se encontrava.
A notícia do mandado causou espanto e alegria nos presentes, pois há muitos anos ele havia se extraviado e desde então ninguém conseguira localizá-lo.
Diante da necessidade de que alguém fosse até a Capital Federal em busca do documento, Mestre Joaquim prontificou-se a viajar para lá com esse objetivo. Em Brasília, contactou o Sr. Jerônimo Santana (que posteriormente chegou a ser governador de Rondônia) e, em seguida, dirigiu-se à Secretaria de Justiça, onde permaneceu o dia todo devido à dificuldade de localizar o mandado, a qual se devia ao fato de que este havia sido impetrado no nome de Associação Beneficente União do Vegetal.
De posse desse documento, Mestre Joaquim retornou a Campinas, de onde enviou uma cópia do mesmo a Porto Velho e outra a Manaus. Ele levou uma terceira consigo ao do Núcleo de São Paulo1, onde participou de uma sessão, a qual teve lugar um dia após a sua chegada. O mandado de segurança, que respalda juridicamente as atividades da União do Vegetal2, foi usado numa defesa publicada por representantes do Centro num jornal de Porto Velho de 15 de setembro de 1977. A confiança que o mestre geral representante daquela época depositou em Mestre Joaquim desde o primeiro encontro entre ambos constitui um sinal da harmonia deste com a manifestação do mistério que envolve a União do Vegetal, mistério esse que a partir de então desencadeou uma constelação de acontecimentos significativos, sem contar os que ainda virão.
UDV é OBDC
Alguns meses se passaram e, por ocasião de sua terceira viagem a Porto Velho, no dia seguinte ao de uma sessão de festa, Mestre Joaquim pergunta a mestre Joanico:
- O senhor sabe o significado de UDV é OBDC ?
Após olhar por alguns segundos seu interlocutor em silêncio, ele respondeu:
- Não, senhor.
Essa atitude franca e sincera veio a reforçar a amizade e o respeito mútuo. Em seguida, Mestre Joaquim pediu um pedaço de papel e um lápis e, sentando-se com ele junto à mesa, escreveu o significado das letras, dando a explicação necessária, diante da qual mestre Joanico ficou perplexo, pensativo e silencioso. E fez o mesmo com mais seis associados que já pertenciam ao quadro de mestres, os quais tampouco conheciam o seu significado. No caso destes, no entanto, a revelação foi recebida com um misto de espanto e incômodo. Hoje, depois de milhares de horas de burracheira e de rigorosa observação da natureza humana, Mestre Joaquim sabe que os ensinamentos hierofânticos do Senhor não devem ser entregues “de bandeja” às pessoas, mas sim descobertos por elas próprias.
Alguns membros mais antigos que conviveram com MESTRE Gabriel sabem que ele sentenciara:
- Quem descobrir o significado destas letras, esse é o Mestre.
Portanto, o desvendar desse significado, o qual se deu em três graus de saber (um dos quais já foi revelado), veio a confirmar o grau de convicção do Mestre acerca da importância do tesouro espiritual que, a partir de então, passou a estar sob sua guarda.
A União do Vegetal em Campinas
No Núcleo de São Paulo, Mestre Joaquim, ainda na condição de discípulo, comungou o Vegetal durante um ano, período no qual continuou a receber revelações significativas a respeito da União do Vegetal através de burracheiras iniciáticas que vinham reforçar, cada vez mais, sua firmeza e determinação em servi-la.
Já nessa época, premido pela necessidade, ele advertia sobre os desvios na doutrina e no comportamento dos discípulos, desvios esses que eram fruto de um excesso de liberalismo combinado com um envolvimento do então dirigente com a filosofia de uma seita indiana. O fato de ele ter percebido esse choque de doutrinas acabou provocando a sua decisão de desligar-se do Núcleo dessa capital. No entanto, permanecia ainda filiado à Sede Geral, em Porto Velho. Alguns meses depois, a distribuição do Vegetal em São Paulo é suspensa pela Sede Geral, e o Mestre, em mais uma de suas viagens a Porto Velho, recebe, em 1976, autorização para distribuí-lo em Campinas.
É importante ressaltar que Mestre Joaquim recebeu essa autorização apenas um ano após haver começado a freqüentar a União do Vegetal, e antes mesmo de que houvesse participado de qualquer sessão instrutiva1. É que as longas conversações mantidas com o então representante geral foram suficientes para fazer com que este sentisse que havia encontrado alguém capaz de cumprir e de fazer cumprir a lei da UDV. Além disso, Mestre Joaquim, como observador da natureza, aprendeu, através das chamadas e do Vegetal, a trazer de si os ensinamentos necessários para dar continuidade aos trabalhos da Ordem, descobrindo o segredo de como penetrar nos mistérios dos encantos da Minguarana.
Esta nova prova de confiança do mestre geral representante em relação a Mestre Joaquim constitui mais uma atitude inédita em sua carreira na representação, haja vista ao tempo que ele costumava demorar para autorizar a abertura de novos núcleos, tal como, por exemplo, ocorreu com o Núcleo de Brasília.
No Pré-Núcleo de Campinas, como instrutor, Mestre Joaquim deu continuidade à sua missão distribuindo o Vegetal durante treze meses, durante os quais procurou sempre seguir à risca os ensinamentos da UDV. Porém, como todo aquele que se dispõe a aplicar a lei é incompreendido, o Mestre continuou a ser alvo de críticas e julgamentos por parte de alguns integrantes do Centro, sobretudo porque procurava mostrar aos discípulos que o processo de Iniciação implica uma substancial mudança de hábitos, inerente a uma visão espiritual da vida.
Durante esse período, o Pré-Núcleo de São Paulo foi reaberto, e o seu então dirigente chegou a atender dois discípulos de Campinas que haviam sido punidos por infringência à Lei da União do Vegetal, permitindo-lhes participar de sessão. Agindo por conta própria, sem a autorização de Mestre Joaquim, aquele representante, com tal atitude, estava estimulando a desobediência, subvertendo a ordem e contribuindo para a desunião. Além disso, ele distribuía o Vegetal a outras pessoas residentes em Campinas, o que não fazia sentido, já que nesta cidade havia um Representante autorizado para desempenhar essa função. Assim agia por ver equivocamente em Mestre Joaquim o causador do fechamento do Núcleo da capital paulista no ano anterior, opinião que era compartilhada também por outros integrantes do mesmo. E então, embaçados por esse julgamento e dominados pela revolta, incentivavam a insubordinação nos demais discípulos, tentando convencê-los de que a lei da União do Vegetal não deveria ser cumprida de forma rigorosa. Com isso, infringiam a mesma Lei, esquecendo-se por completo dos ensinamentos do MESTRE Gabriel expressos em sua Convicção1 os quais determinam que não podemos julgar, censurar ou nos revoltar.
Tais divergências na linha de doutrinação, acrescidas de intrigas, provocaram um conflito entre o Pré-Núcleo de Campinas e a representação geral em Porto Velho, a qual, não conseguindo escapar às influências dos que se sentiam incomodados com a presença do Mestre, acabou suspendendo a distribuição do Vegetal em Campinas.
O que mais evidencia o fato de que a presença do Mestre não era conveniente para alguns integrantes é o motivo - comprovadamente fútil - encontrado para tentar justificar o fechamento do Núcleo: a questão de a camisa da União do Vegetal (trajada nas sessões) ser usada para dentro das calças, quando, segundo o representante geral, ela deveria ser usada para fora. É preciso esclarecer, no entanto, que no Pré-Núcleo de Campinas o uniforme era usado para dentro não por insubordinação, mas devido à falta cometida pela Administração Geral em não ter anexado, aos Boletins do Centro, o artigo que regulamentava o assunto. Mestre Joanico, durante sua visita a Campinas, procurou em vão por tal artigo, e constatou que ele não havia sido enviado pela Sede Geral. Essa questão poderia ter sido resolvida com uma simples determinação, a qual teria sido prontamente cumprida.
Ciente da decisão da sede geral de suspender a distribuição do Vegetal em Campinas (tomada por ocasião do regresso de mestre Joanico a Porto Velho, antes do qual ele passara pelo Núcleo de São Paulo), Mestre Joaquim acatou-a plenamente, devolvendo todo o material da UDV que estava em seu poder, inclusive o Vegetal. E embora tenha sempre se dedicado à Ordem desde o seu encontro com ela neste corpo, contribuindo para sua organização em todos os sentidos, o Mestre em nenhum momento lamentou o ocorrido, mesmo porque ele sabe que em tudo está o mistério de Deus.
A forma como ocorreu o fechamento do Pré-Núcleo, através de alegações que não explicam nem justificam o fato, constitui um farto material para reflexão. Os acontecimentos a ele relacionados foram tão significativos que acabaram por desencadear o fim de um ciclo e o início de outro, nascido sob a égide da vontade de Deus.
Em busca da conciliação
Após observar durante um ano a direção que os acontecimentos vinham tomando, Mestre Joaquim se deu conta da impossibilidade de continuar filiado ao Centro, uma vez que o regime hierárquico verticalista da União do Vegetal havia sido substituído por outro, de natureza política, em função do qual prevaleciam os interesses individuais. Pediu então desligamento, por escrito, consciente de sua decisão.
Transcorrido mais um ano, ele viajou a Porto Velho, pela sexta vez desde sua chegada em 1975, com o objetivo precípuo de ver esclarecida a questão da suspensão da distribuição do Vegetal em Campinas. Esperava que, àquela altura, a administração geral já tivesse tido tempo suficiente para reconhecer o engano em que consistira a sua decisão. Procurava, com isso, proporcionar aos representantes do Centro uma chance de se retratarem, para que, futuramente, não viessem a alegar que ele não havia esgotado todas as tentativas de conciliação.
Mestre Joaquim dirige-se então ao mestre geral (que não era mais mestre Joanico, visto que ele perdera a eleição para mestre geral) para propor-lhe a realização de uma sessão durante a qual, dentro da luz do Vegetal, pudessem examinar o assunto. Mestre Joanico intercede a seu favor, solicitando ao representante que realize uma sessão para se resolver o impasse, pois o fechamento do Núcleo de Campinas era para ele motivo de arrependimento. Prova disto é que, alguns meses depois, ele chegara a enviar a Mestre Joaquim, atendendo a um pedido seu, doze mudas de Mariri Tucunacá, atitude que lhe ocasionou sérios problemas perante a representação geral. No entanto, a proposta para a realização da sessão foi recusada, e através dessa recusa Mestre Joaquim pôde sentir no então representante o medo da prestação de contas, fruto da falta de convicção nas decisões anteriormente tomadas.
É sintomático que esse representante de Porto Velho fosse o mesmo que, anos antes, quando em visita ao Núcleo de São Paulo, havia sido indagado por Mestre Joaquim (que, na época, ainda na condição de discípulo, bebia o Vegetal pela sétima vez) do porquê de estar dirigindo uma sessão sem a camisa da União do Vegetal. Ele, não conseguindo se explicar, agradeceu a lembrança. Mas, apesar do agradecimento, não demonstrou, por ocasião dessa nova visita do Mestre a Porto Velho, a devida nobreza de espírito, já que, por razões inexplicáveis, recusou-se a atendê-lo, embora soubesse que se tratava de um ex-dirigente de Núcleo que viajara quatro mil quilômetros para resolver uma questão que não envolvia só a ele, mas também a outras pessoas que estavam privadas da comunhão do Vegetal há mais de dois anos.
Além disso, qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade teria percebido e levado em conta, naquela situação, o forte vínculo de Mestre Joaquim com a União do Vegetal, demonstrado desde a sua chegada através de atitudes significativas de fidelidade e dedicação. É digno de nota, por exemplo, o fato de que ele, em menos de três anos, tivesse viajado quarenta e oito mil quilômetros (o correspondente a seis viagens de ida e volta a Porto Velho), às suas expensas, para tratar de assuntos exclusivamente relacionados à UDV, dando início a um trabalho de organização e estruturação da mesma.
A recusa do representante impediu que a questão da redistribuição do Vegetal por Mestre Joaquim fosse examinada e decidida dentro do âmbito do próprio Centro, dado que lhe fechou a porta de acesso a ele e eliminou, assim, toda e qualquer chance de entendimento. E ao se omitir de tratar de um assunto que se encontrava sob sua responsabilidade com o objetivo de se ver livre da presença do Mestre na UDV, essa mesma pessoa acabou provocando a intervenção espiritual de MESTRE Gabriel, conforme veremos a seguir.
A intervenção de MESTRE Gabriel
Ainda em Porto Velho, Mestre Joaquim fica convencido de que os representantes do Centro dessa cidade não estavam preparados para dar continuidade à obra de MESTRE Gabriel, e retorna a Campinas decidido a aguardar pacientemente o novo rumo que os acontecimentos haveriam de tomar.
Um ano depois (e três após o fechamento do Núcleo de Campinas), no dia 24 de junho de 1981, ele realiza uma sessão com o Vegetal preparado com os cipós das mudas de Mariri enviadas por mestre Joanico e as folhas de um pé de chacrona que este também lhe havia presenteado por ocasião da segunda viagem que fizera a Porto Velho. Essa foi a primeira sessão de preparo realizada em Campinas. Nessa ocasião, recebe ordem superior e autorização espiritual de MESTRE Gabriel para constituir, aos 22 de julho do mesmo ano, o Centro Espiritual Beneficente União do Vegetal. Somente desse modo seria possível evitar o desvio da doutrina da UDV, preservando-se, assim, seus ensinamentos.
De acordo com a determinação superior recebida, o nome do Centro deveria permanecer praticamente o mesmo. Apenas a palavra Espírita deveria ser substituída por Espiritual, uma vez que a primeira remete ao Espiritismo, ou seja, à doutrina de Allan Kardec, que, como se sabe, se ocupa da comunicação com espíritos desencarnados, enquanto que a UDV tem por objetivo proporcionar ao homem o conhecimento de seu próprio espírito, desvendando-lhe o passado em outras encarnações e reconduzindo-o à sua origem divina.
Algumas pessoas, recusando-se a aceitar a presença do mistério no Vegetal, indagam como pode ser possível que Mestre Joaquim tenha recebido autorização espiritual de MESTRE Gabriel para constituir o Centro Espiritual sendo que este já estava desencarnado. Mas o fato é que ele a recebeu, e não apenas a autorização, mas também, ainda na mesma sessão, a estrela, símbolo do grau de Mestre. Quanto à forma como isso ocorreu, trata-se de um segredo que pertence às pessoas que estavam presentes naquela sessão.
Cabe esclarecer que quando a estrela está verdadeiramente no coração, ela representa o símbolo da união, que é luz, paz e amor, símbolo este que o discípulo só recebe quando aprende a amar o próximo como a si mesmo. E o sinal de que uma pessoa já chegou a este ponto é a presença constante de um estado de espírito elevado, caracterizado pela ausência de manifestações de desrespeito ao semelhante, tais como ofensas, calúnias, censuras e julgamentos; enfim, de um estado de espírito pleno de solidariedade e de disposição de contribuir para a evolução do próximo.
Ressentimento e revolta
A constituição do Centro Espiritual, ocorrida em 1981, gerou revolta em meio a alguns dos integrantes do Centro Espírita. A partir dessa data, durante vários anos, eles se indispuseram contra o Mestre e procuraram difamá-lo tanto em âmbito interno (isto é, junto aos seus próprios associados) através de panfletos que insistiam na idéia de que ele seria um usurpador, como em público, através da mídia, da qual lançaram mão a cada vez que alguma obra da União do Vegetal era publicada.
Dezessete anos depois, desprovidos da devida coragem para reconhecerem seus erros e se renderem à incontestável autoridade moral e supremacia espiritual do Mestre, membros do Centro Espírita optaram pela forma mais indigna e vil de vingança, a impetração de uma ação judicial contra o Centro Espiritual reivindicando o direito de propriedade exclusiva dos nomes União do Vegetal e Oaska junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Para justificar essa reivindicação, apoiaram-se na existência de um registro de propriedade comercial sobre esses nomes.
É compreensível e perfeitamente aceitável que se exija exclusividade de uso de um nome destinado a ser marca de algum produto de natureza mercantilista. Mas, em se tratando de algo de origem milenar e que, além de tudo, não é propriedade de quem quer que seja mas sim um patrimônio espiritual da humanidade, essa exigência de exclusividade carece totalmente de razão de ser. No caso específico dos nomes Oaska e União do Vegetal, há ainda o agravante de que eles fazem parte das tradições indígenas da América do Sul há séculos, tal como consta em diversas obras de etnobotânica, antropologia e História. Não por acaso, quando nos Estados Unidos alguém teve a idéia de tentar patentear o chá, a tentativa não apenas redundou em fracasso mas gerou ainda grande indignação em meio à população indígena e a diversas organizações ecológicas do continente americano.1
O fato é que, ao optar por mover a ação, o Centro Espírita deixou evidente que seus objetivos não são de natureza espiritual, mas sim comercial. E, como se isso não bastasse, pisoteou ainda a própria lei da União do Vegetal, pois traiu os ensinamentos do MESTRE que se encontram registrados num documento denominado Convicção do Mestre, publicado em 1967 no jornal Alto Madeira, em Porto Velho, Rondônia.
Esse documento narra um episódio da vida de MESTRE Gabriel em que ele foi preso injustamente e de maneira arbitrária pelo então delegado de polícia de Porto Velho por estar preparando e distribuindo o Vegetal a alguns de seus discípulos, e evidencia que ele era contrário à prática da mobilização judicial. Consta que estes tentaram impetrar uma ação judicial contra o referido delegado alegando invasão domiciliar após as 22 horas, mas que foram desestimulados pelo MESTRE a tomarem qualquer atitude no sentido de punir judicialmente o autor de sua prisão, pois se o fizessem não estariam agindo com luz, paz e amor.
E se MESTRE Gabriel declinou da vontade de punir judicialmente aqueles que o prenderam, como seria de se esperar então que ele viesse a agir num caso em que o acusado é um homem que vem fazendo cumprir sua palavra e trabalhando para tornar a União do Vegetal conhecida e respeitada mundialmente, e que, além disso, vem trazendo a público, por meio de dezenas de obras, os ensinamentos recebidos através da Oaska?
O processo judicial impetrado contra o Centro Espiritual Beneficente União do Vegetal ainda se encontra em andamento, mas, independentemente de seu resultado, o Mestre Joaquim José de Andrade Neto continuará cumprindo sua missão de maneira magistral, tal como sempre a cumpriu, mantendo-se permanentemente em sintonia com a Força Superior e recebendo dela toda a inspiração e a sabedoria necessárias para conduzir os trabalhos da Ordem. Como homem consciente que é, ele sabe que a decisão jurídica em questão, por mais que possa garantir a exclusividade de uso do nome da União do Vegetal à outra parte, não lhe garantirá jamais a presença do mistério em suas atividades nem a autoridade espiritual inerente ao grau de Mestre a nenhum de seus membros. Ao contrário, aqueles que, agindo de forma truculenta e retaliadora, outorgam aos homens o direito de decidir sobre questões de natureza divina, esquecendo-se de que nestes casos a mão humana é indesejável, acabam impedindo, por suas próprias atitudes, que o poder de Deus os penetre. Distanciam-se, por conseguinte, dos Seus elevados atributos de luz, paz e amor.
Em síntese, a constituição do Centro Espiritual, ao invés de gerar revolta, deve ser motivo de reflexão e exame, uma vez que a lei da União do Vegetal existe para ser cumprida, e não violada. E aqueles que cometem uma infringência não podem nem devem eximir-se de seus efeitos, dos quais estarão livres somente a partir do momento em que reconhecerem de coração suas atitudes inconseqüentes. Só a partir de então poderão desfrutar do conforto que seus espíritos tanto necessitam.
| |
|
|
1. O norte-americano Loren Miller agiu de forma semelhante à do Centro Espírita, tentando obter a patente da Ayahuasca (corruptela de Oaska usada pelos índios). Seu objetivo era torná-la produto exclusivo da empresa Plant Medicine Corporation, tendo, por causa disso, sido notícia internacional durante alguns anos. Em 1986 ele obteve essa patente, mas o fato provocou o repúdio das comunidades indígenas. A Confederação Indígena das Comunidades Amazônicas (COICA) solicitou o cancelamento da mesma, apoiado no fato de que a bebida já vem sendo usada por índios há séculos. Durante o 5º Congresso da COICA, em maio de 1997, oitenta delegados representantes de quatrocentas tribos amazônicas se posicionaram contra o patenteamento. Finalmente, no dia 3 de novembro de 1999, depois de grande parte do mundo também haver feito o mesmo, o PTO (United States Patent and Trademark) o rejeitou, levando em consideração o sentido sagrado da bebida para as comunidades indígenas e o fato de elas a usarem há muitas gerações.
3 comentários:
Se o cara vira mestre só por isso...
Pow o cara é um folgado.. isso sim.. sem alicerce espiritual..
Humildade e que faz um Mestre.. a auto-proclamaçao e a exaltação e atitude dos profanos e dos insensatos (Sem dizer os absurdos dos livros deste homem que nada sabe é muito divulga e não tem discernimento nenhum nem alicerce espiritual... Sem conhecimento algum.. da verdade da Ayahuasca.
Triste.
Nao podemos julgar censurar ou nos revoltar....Convicção do Mestre.
Não fale do que o senhor não sabe...
Postar um comentário